ARACAJU MERECE UM PORTO

*Luiz Eduardo Costa

 

Os pequenos barcos se amontoam porque não há mais espaços.

A Barbosópolis, com o passar dos anos acabou ficando sem  porto.

Mas, o que vem a ser essa coisa estranha, Barbosópolis? Trata-se exatamente de Aracaju, a cidade criada por Inácio Barbosa, e planejada pelo engenheiro Pirro, assim denominada pelos  escribas  nos jornais, até os anos setenta, quando se foi tornando um anacronismo. Diziam os sancristovenses, irados com a perda da condição de capital da Província, que a nova capital não passaria de uma “vitória de Pirro”. Como é sabido, Pirro foi aquele general que diante de mais uma  sofrida vitória contra os romanos, desabafou:  Com mais uma dessa minhas tropas  se acabam.

Mas, de fato Aracaju, surgindo  sobre o aterro de dunas demolidas, e espalhadas suas areias sobre mangues, charcos e marés, tornou-se mesmo uma vitória do arrojo e decisão, e também do Barão de Maruim, interessado em valorizar suas terras.

Do ponto de vista essencialmente lógico e prático, Aracaju foi sonhada para  ser uma cidade portuária, com acesso  mais fácil   ao mar, e a proteção de um largo estuário, que poderia abrigar dezenas de embarcações.

No  começo dos tempos da terra- brasilis, naquele estuário profundo e largo, e com uma barra sempre complicada, abrigavam -se os veleiros dos piratas franceses, que retornavam abarrotados de pau-brasil. Depois, para saírem carregados do açúcar dos engenhos da Cotinguiba, da Itaporanga, do Arauá, da Estancia.

E até meados dos anos sessenta, quando a caneta do presidente marechal Castello Branco, funcionou para extinguir as estatais de navegação, o Loyde Brasileiro e a Costeira, deixando o nosso porto, aliás complicado, a “ver navios.”

Foi mais adiante e extinguiu também as ferrovias.

Assim, Aracaju ficou a depender, por via terrestre, exclusivamente da rodovia que a ligava a Salvador e ao resto do Brasil, esta, só asfaltada a partir de 1970.

Mas, com a descoberta de petróleo no mar, em 1968, o porto de Aracaju voltou a encher-se de pequenos  barcos de transporte de gente e material, que faziam a logística das plataformas. Ficavam, os barcos modernos, ao lado dos velhos saveiros, os últimos aliás, acostando na rampa do Mercado Municipal, trazendo para a feira mercadorias  as mais diversas.

O antigo cais do porto era  uma ponte de madeira que avançava uns sessenta metros pelo rio,  no trecho da avenida Rio Branco,  onde ficava o Trapiche do Lima, entre as ruas Laranjeiras e São Cristovão. Ali, desembarcavam cargas e passageiros.

Agora, Aracaju perdeu a sua vocação marítima. Só restaram mesmo os barcos de pesca, pequenas embarcações que utilizam redes de arrasto para o camarão, e anzóis para os peixes. Ficam, todas à falta de um local apropriado aglomerando-se junto ao cais,  ao lado do Entreposto da Pesca, uma instalação  frigorifica  onde os peixes seriam recebidos, tratados e frigorificados. Nunca foi concluído. O ex-presidente esteve em Sergipe três rápidas vezes, onde fez muitos xingamentos e prometeu que concluiria o agora “ elefante branco”, ainda abandonado.

Mas, voltando à ideia do porto.

Agora, ela se fortalece, porque crescem as atividades  no pré-sal, com exclentes perspectivas e  Aracaju é o porto abrigado mais próximo. Voltam a ancorar, aqui os pequenos barcos de apoio, e lhes faltam instalações portuárias com o tamnho mínimo que exigem. Aglomeram-se esses barcos uns encostados nos outros, e mais não chegam por falta absoluta de condições.

A barra do Sergipe é complicada, e a cada dia se vai agravando o assoreamento. Mas esses barcos que aqui chegam são de pequeno calado e atravessam o sinuoso canal, onde, nas marés baixas, a profundidade não chega a três metros em alguns locais. Em compensação o estuário é amplo e razoavelmente profundo, em alguns locais chegando a mais de vinte metros.

O porto de mar na Barra dos Coqueiros, tem capacidade limitada, não recebe navios com mais de 30 mil toneladas de deslocamento, tem uma área protegida  , mas a operação para os pequenos barcos não é fácil.

A melhor alternativa para eles continua sendo mesmo o estuário do Sergipe. O porto se faz necessário, ampliando-se o cais em frente ao Mercado ou construindo um outro em local que a técnica recomendar, e que poderia até ser na Barra dos Coqueiros, e, ao mesmo tempo tentando-se finalmente, concluir o Entreposto  que seria utilizado exclusivamente pelos barcos de pesca.

É preciso também pensar na revitalização da navegação fluvial, inclusive para o transporte de passageiros entre Socorro e Santo Amaro para Aracaju, em lanchas rápidas.

Para a Barra dos Coqueiros, apesar da ponte, ainda há um fluxo considerável de transporte feito pelas lanchas chamadas tó-tó-tós, mais baratas, e que fazem o trajeto rapidamente cruzando o rio. Antes, tudo se processava através do Terminal  Fluvial, que foi transforado em Memorial de Zé Peixe, uma boa ideia do ex-governador Marcelo Déda, ele imaginava,provavelmente, que o transporte pelas canoas estaria com seus dias contados, e ocupou todo o espaço com a homenagem a Zé Peixe. Ali, o Memorial poderia ser agora, instalado no andar superior, onde fica restaurante com reduzidíssima frequência, e na parte térrea reinstalado o sistema de embarque e desembarque para  as tó-tó tós,  hoje feito de maneira precária , e com riscos, por uma pequena ponte que avança para o rio e onde funcionam acanhados quiosques, com a lama em torno de tudo. Há uma atitude de desprezo em relação aos passageiros que cumprem o sacrifício da travessia nas tó-tó-tós, e eles todos os dias renovam a exposição ao perigo.

Anuncia o prefeito Edvaldo Nogueira que, utilizando-se aqueles recursos obtidos através de empréstimos, entre tantas outras coisas, será feita a dragagem e a despoluição do rio Poxim.  Edvaldo estaria imaginando, também,  revitalizar o transporte fluvial, através das largas hidrovias que circundam a “ Barbosópolis “ e proporcionando aos passageiros, agilidade e conforto.

Tudo isso acontecendo,  Aracaju retomará a sua vocação fluvial – marítima, a principal razão a motivar o seu nascimento.

 

 

* Luiz Eduardo Costa, é jornalista, escritor, ambientalista, membro da Academia Sergipana de Letras e da Academia Maçônica de Letras e Ciências.

 

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