O SENADO, OU O CÉU NÃO É PERTO
X Luiz Eduardo Costa,
O Senado da República o “Paraíso” disputado, o “céu na terra”.
Dizia, um político sergipano, muito em destaque nos anos 50, depois de ser eleito para o Senado Federal:- A vida me permitiu conhecer dois paraísos, um deles, os cabarés; o outro, o Senado, onde me encontro, já o paraíso celeste não sei se o alcançarei. A partir dessa frase tornou-se corriqueiro, em Sergipe, definir o Senado como uma espécie de céu na terra, ao qual raros teriam o privilégio de ocupar um lugar. Só figuras muito experientes, já tendo uma vasta biografia política, apareciam como postulantes a uma das três vagas na Câmara Alta, reservadas a cada estado. Os entes federativos igualam-se na representação, ao contrário da Câmara Federal onde pesa a população de cada um. Isso faz São Paulo ter 70 deputados federais, enquanto Sergipe conta com apenas oito. O Senado oferece o privilégio de 8 anos de mandato, enquanto o deputado precisa tentar renová-los a cada 4 anos. Os mandatos não coincidem, por isso, se faz a renovação de um terço, e outra de dois terços. Este ano encerra seu mandato, bem exercido aliás, a Senadora Maria do Carmo Alves, os dois outros, Alessandro e Rogério, têm mais quatro anos pela frente, e a vantagem de poderem disputar, tranquilos, uma eleição para governador. Quando eleitos, abre-se a vaga ao suplente, não eleitos dão continuidade ao mandato do qual não se afastam para concorrer. Assim, Alessandro e Rogério surgem na raia, onde a fita de chegada é o Palácio Olímpio Campos. Só três sergipanos conseguiram três mandatos de Senador. Foram eles: Lourival Baptista, Antônio Carlos Valadares e Maria do Carmo Alves. Lourival e Valadares tentaram a reeleição, o primeiro em 1994, o segundo em 2018, e não se reelegeram. Maria do Carmo dá por encerrada sua carreira política, e não será candidata. No quadro atual não seria uma candidatura a ser descartada. Correndo por fora, ou seja, sem a cobertura de um mandato, estão definidas às pré-candidaturas da delegada Daniele, ex-assessora do ex-Juiz, e já derretido pré-candidato à Presidência. Há também o combativo ex-presidente da OAB-SE, Henry Clay, pelo resiliente PSOL, que agora vai receber a adesão ousada do deputado estadual Iran Barbosa, um dos melhores quadros da política sergipana, desligando-se do PT depois de alongada militância. Também há o candidato que quer “montar o palanque bolsonarista em Sergipe, “O coronel reformado PM Henrique Rocha. Já o ex-deputado federal Valadares Filho, (PSB) de volta a uma aliança com o PT, após o episódio do impeachment de Dilma, que azedou a relação, pretende retornar à Câmara Federal, mas, tem sido insistentemente estimulado pelo senador Rogério Carvalho a tornar-se candidato ao Senado. Poderia tornar-se uma opção bastante viável, a depender do cenário que venha a ser formado. Eliane Aquino, a viúva de Déda, teria sido a candidata ao Senado do grupo governista, caso Rogério não cuidasse de si mesmo, para se fazer candidato ao governo. Eliane, agora, disputará a Câmara Federal. Lula teria preferido a outra alternativa com o bloco coeso, que lhe garantiria mais votos em Sergipe, e agora o cenário politico recomenda: o voto, onde ele estiver e por mais escasso que seja, terá de ser afanosamente garimpado. Com a definição no grupo governista da candidatura ao governo de Mitidieri, a vaga no Senado é assunto ainda a resolver. O governador Belivaldo deu o fim deste mês como prazo para o bater do martelo. Mas, apesar de tudo o “céu não é perto”, a frase, aqui, torna-se quase metáfora para envolver aquela definição do antigo politico sergipano, sobre o paraíso que seria a Câmara Alta da República. Há uma impressão generalizada de que, havendo unidade no grupo, o candidato que surgir ungido pelo consenso, terá meio caminho andado. Apesar de tudo, a eleição não será fácil, principalmente se levarmos em conta aquela “volatilidade” do voto a que se referiu, em instante crítico o prefeito Edvaldo Nogueira. Na Ópera Carmen, o autor George Bizet, no seu libreto em italiano refere-se às mulheres volúveis, “che piume al vento”, como plumas ao vento. Errou feio o grande maestro ao culpar somente as mulheres. A volubilidade é uma característica do ser humano, e não de um dos sexos, e dela não fogem os eleitores. Assim, em quaisquer circunstancias é recomendável medir e pesar essas características humanas, demasiadamente humanas. Na disputa pelo Senado estão o deputado federal Laércio Oliveira e o ex-governador Jackson Barreto. Laércio é um forte empresário. Deputado no terceiro mandato, além de líder empresarial e presidente da Federação do Comércio de Sergipe, tem tido uma ação decisiva na formulação da política nacional do gás, e tentando colocar Sergipe como um dos polos principais, na ufanisticamente denominada “nova era do gás”, onde poderia ser revertido o processo de desindustrialização que empobrece o país, agora, ainda mais aceleradamente. Laércio, candidato, teria de lidar com muito cuidado com essa questão do bolsonarismo, do qual faz parte, mas, a seu favor existe o fato de que soube manter distância dos tumultos do presidente, ao investir contra as instituições, e ameaçando a democracia. Na ocasião mais grave, Laércio chegou a emitir uma nota em defesa das Instituições e do regime democrático. Caso não ocorra uma improvável reversão de expectativas, em Sergipe mais de sessenta por cento do eleitorado se encaminharão para Lula. Jackson Barreto tem uma longa história de militância e coerência com suas ideias. Chegou a romper com Temer, emedebista como ele, e seu amigo, quando o apelidou de golpista. Estava no governo de Sergipe, e sabe as consequências desse seu gesto, embora jamais reconhecido pelo PT. Foi a Curitiba duas vezes visitar Lula na prisão. O ex-presidente lhe é reconhecido, mas não poderá fazer mais do que isso, caso o PT tenha em Sergipe um candidato próprio. Jackson sabe também que grande parte do PT não votaria nele. JB já foi a maior liderança popular de Sergipe. Aracaju lhe dava em eleições para prefeito mais de sessenta por cento dos votos. Numa disputa em 1994 pelo governo do estado, concorreu contra Albano Franco, então senador e presidente da CNI, tendo no governo João Alves. Ex-aliado de JB ele que mobilizou céus e terras para eleger Albano, do qual seu cunhado, o médico Jose Alves era o primeiro suplente na chapa de Senador. Jackson venceu no primeiro turno por 1.400 votos. Foi a eleição onde começou a decadência do IBOPE, que dava para Albano uma vantagem superior a cem mil votos. No segundo turno, depois de uma desnecessária viagem à Terra Santa onde faria uma promessa, ao retornar, Jackson encontrou o cenário politico mais adverso que jamais se formara em Sergipe, quando todas às Instituições parece que fizeram um inusitado pacto secreto para derrota-lo. E ele perdeu por 23 mil votos. Já em 1998, Albano era candidato a reeleição contra exatamente João Alves, que pretendia retornar ao governo, JB, por interferência de João Gama, prefeito de Aracaju e seu amigo histórico, aliou-se ao seu acérrimo adversário. Albano reelegeu-se, e ele perdeu o Senado. Sofreu um inevitável desgaste. Retemperou-se. Tornou-se vice de Marcelo Déda. Assumiu o governo após a morte do grande líder, e fez a proeza de reeleger-se. Depois, mais uma vez sofreria uma derrota concorrendo ao Senado. Agora, pretende tentar outra vez. O problema é que a história, ou biografia política, nem sempre servem de referências, embora no próprio PT haja a convicção de que se Jackson estivesse no Parlamento não teria votado a favor do impeachment de Dilma, nem muito menos votaria a favor do execrável orçamento secreto, como fez o petista senador sergipano.
X Luiz Eduardo Costa, é jornalista, escritor, ambientalista, membro da Academia Sergipana de Letras e da Academia Maçônica de Letras e Ciências. Além desse blog, é colunista do Portal F5 News
