A FESTA DE ARACAJU E A SEGUNDA PONTE

 

Luiz Eduardo Costa,

Depois de um périplo ao redor do poder em Brasília, onde tem agora laços sólidos estabelecidos,  Edvaldo Nogueira,  reeleito a fim de  liderar a  entidade que reúne os prefeitos de todas as principais cidades brasileiras, chegou a tempo para participar da mais vistosa comemoração que já se fez do aniversário da nossa  Aracaju.
Foi festa abrangente, solene,  e também  descontraída, com  arte , esporte, música , cultura,  o popular marcando presença; as mãos se juntando nas preces no acolhedor espaço de fé sobre a colina de Santo Antônio, um marco da cidade que iria espraiar-se pela margem do rio e alcançando o mar.
Houve até a relembrança daquela música que Caetano Veloso fez para  Aracaju, antes de sofrer a decepção de alguns  trogloditas que o ofenderam, isso, aliás, muito antes dos tempos odiosos e turbulentos vividos pelo país  nesses últimos quatro anos de triste memória.
Carlos Cauê, muito mais do que a fama de marqueteiro, implacável no embate com os adversários, é, sobretudo, um homem sensível, e foi lembrar da poesia de Caetano que andava por aqui esquecida, embora cantando a nossa capital.
Na Praça Inácio Barbosa, onde estão os restos do fundador, estavam comemorando juntos o governador Fábio Mitidieri e o Prefeito Edvaldo Nogueira.
E os dois resolveram dar excelentes notícias para a cidade que aniversariava. O prefeito anunciou mais uma ampla avenida na zona sul, paralela a uma outra a Melício     Machado; o governador assumiu a responsabilidade de fazer a nova ponte, absolutamente necessária sobre o Poxim, prolongando a avenida Tancredo Neves até o outro lado,  a Coroa do Meio, e deu noticia também de estudos preliminares para a construção de uma nova ponte Aracaju- Barra, dessa vez na foz do Sergipe, ligando  Atalaia Velha à Atalaia Nova,  numa distancia de menos de cinco quilômetros da primeira, uma das ousadias de João Alves, e que deu certo. Após a solenidade o governador Mitidieri passou o governo ao vice Zezinho Sobral, e faz  uma curtíssima viagem aos Estados Unidos.
A Barra dos Coqueiros transforma-se rapidamente, talvez seja hoje no nordeste, um dos pontos com maior concentração de investimentos imobiliários, diante da perspectiva de ampliação do porto , da era do gás e de mais petróleo ( a depender da confirmação da Petrobras, sobre sua prioridade na bacia Sergipe – Alagoas.) Aquela rápida conurbação na antiga Ilha dos Coqueiros, acelerada agora com a liberação das licenças ambientais, que são benvindas , desde que se faça a exigência de preservação de áreas verdes, dos coqueirais, das mangabeiras,  da vegetação de restinga e manguezais, características  da ilha, sem as quais o “ boom “ imobiliário acabará por perder fôlego. A  Barra está a exigir um planejamento urbano, tendo em vista a expansão rápida do tráfego. Da mesma forma a ponte Construtor João Alves poderá ter readequados os seus acessos nas duas cabeceiras, ou talvez ampliada a sua área de tráfego, à semelhança do que faz agora o prefeito Edvaldo com a chamada ponte da Atalaia, a primeira sobre o Poxim. Talvez a ideia da segunda ponte possa ser adiada para um bem provável segundo mandato de Mitidieri. Quando então estariam confirmadas as perspectivas do crescimento exponencial, com a produção de óleo e gás, e concretizada a ampliação do porto.
Enquanto isso, poderia ser avaliada a duplicação da rodovia Lourival Baptista, na primeira etapa da BR-101 até Lagarto, e em seguida até a divisa, passando por Simão Dias. Em Lagarto, onde agora se conclui o Hospital do Amor, mais um, da estirpe qualificada do Hospital de Barretos no tratamento do câncer, criação do agropecuarista e filantropo  Henrique Prata. O Campus  da UFS com ênfase nas ciências medicas,  a  pujança na indústria, comercio e agropecuária,   fazem de Lagarto um polo de desenvolvimento que está a exigir uma rodovia compatível   ao volume crescente do tráfego, e que até poderia ser privatizada.
Em Aracaju se poderia ampliar a  acanhada base logística da Petrobras, construindo-se um verdadeiro cais, onde hoje precariamente ancoram ou aglomeram-se  os barcos de pesca em frente ao Mercado Central, enquanto está paralisado o Entreposto da Pesca, com verbas cortadas no governo federal passado, e ali, acostam vez por  outra alguns barcos, fazendo a ligação com as atividades marítimas das petroleiras.  Essa frequência poderia aumentar muito caso houvesse um ancoradouro, digamos assim, decente.
Faz algum tempo aqui neste blog foi abordada a ideia de uma Barragem de Foz, a ser construída no estuário do minguante São Francisco, o Velho Chico, supliciado pelos cortes e liberações determinados pela CHESF.  Com cotas inferiores a mil metros cúbicos de descarga por segundo, o que ocorre frequentemente, se vê o Velho Chico invadido pelas águas do oceano. O engenheiro agrônomo Jose Dias, um permanente estudioso atento aos nossos problemas,  espantou-se ao saber que  crianças em Piaçabuçu, no lado alagoano, estavam registrando variações de pressão arterial,  e isso foi atribuído à salinidade na água do rio que bebem.
O perímetro irrigado do Platô de Neópolis  vem paralisando suas bombas nas marés altas, quando o oceano avança muitos quilômetros rio a dentro, da mesma forma, cidades ribeirinhas têm  o abastecimento ameaçado. Nem precisa dizer que os arrozais do Betume, serão dizimados, caso a salinidade aumente. Custa a crer que a CODEVASF, a empresa hoje tão frequentada por agentes da Policia Federal, não tenha ainda elaborado um relatório circunstanciado sobre a relação perigosa entre o rio e o oceano. E mais perigosa ainda para  os milhões de sergipanos e alagoanos que dependem, para viver, das águas ainda doces do outrora grande rio.
A urgência das mudanças climáticas faz surgir uma urgência ainda maior: a de prevenir . Aqui entre nós o maior risco reside exatamente na carência dos recursos hídricos.
A barragem de foz garantiria um bom e inalterado nível das águas no baixo São Francisco. Onde exatamente seria construída, seria um desafio a ser vencido pela engenharia, acrescentando-se vários outros problemas, como o ambiental, de forma preponderante.
Seria uma obra sem dúvidas   monumental ,   e a ser tocada pela iniciativa privada. Para começar, somente se tornaria possível caso fosse uma decisão em comum acordo  dos governadores de Sergipe e Alagoas,  Fábio Mitidieri e Paulo Dantas. Custo elevado, uma ousadia sem precedentes no país. Não só uma reguladora das águas do rio a barragem, um colosso de cimento armado, poderia ser também uma ponte rodoferroviária. E servir para a instalação de um duplo sistema de geração de energia: a eólica, com varias torres, e usando o movimento constante das águas,   com sistemas  de “ energia de marés” acoplados à base. Isso, e principalmente as tarifas da água fornecida, além de pedágios, poderiam assegurar o retorno do investimento e lucratividade  à empresa que vier a construir a barragem e explorar o sistema.
A água acumulada no ultimo trecho do rio garantiria o abastecimento sustentável de Sergipe e Alagoas, tanto para o uso humano e animal, como para a indústria e irrigação.
Não é uma ideia delirante , é apenas um grande e complexo projeto que exigiria  estudos de variados matizes , a começar pela viabilidade de implantação ; capacidade financeira para implanta-lo,  previsibilidade quando ao retorno dos recursos aplicados, e  da lucratividade. Sem minimizar os impactos ambientais e suas consequências .
Diante da descrição  do projeto, o experimentado e bem sucedido engenheiro e empresário Luciano Barreto, há uns três anos disse: “ Trata-se de uma ideia que merece uma acurada análise “.
Não custa pensar, e sobretudo pensar alto, mirando as nuvens, sem tirar os pés da terra.

 

* Luiz Eduardo Costa, é jornalista, escritor, ambientalista, membro da Academia Sergipana de Letras e da Academia Maçônica de Letras e Ciências. Além desse blog, é colunista do Portal F5 News.

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